Gênero, Cinema e Cariri: Close nas Travesti
Samuel Macêdo, pesquisador da UFBA, fala sobre a mídia, o gênero e as expectativas para produção do audiovisual independente regional
A produção de cinema caririense ganhou seus primeiros rolos de fitas no início do século XX. Foi nas terras do Padre Cícero que cineastas voltaram os olhares atentos das câmeras para o fenômeno religioso que se instaurava. Mas é no fim dos anos 70 que os produtores Rosemberg Kariry e Jeferson Albuquerque inovam ao colocar as primeiras mulheres como protagonistas. Essas produções independentes instigaram estudiosos e ganharam adeptos. É nesse enredo que entra Samuel Macêdo.
Samuel é pesquisador de gênero e cinema. Egresso do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri – UFCA e mestrando em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. Ele conta que sua trajetória pessoal e o envolvimento com projetos de extensão e movimentos sociais, ainda na graduação, o fizeram despertar para o estudo de gênero e sexualidade. Seu trabalho de conclusão de curso analisou o documentário Também Sou Teu Povo de Orlando Pereira, que traz o viés da travesti e sua religiosidade, num contexto juazeirense. Em uma das cenas do filme, são relatadas as travestis e o Padre Cícero como as coisas mais importantes do Juazeiro.
E então, a tônica dos grupos ditos marginalizados puxou Samuel pelo braço e o fez expandir seus estudos na Bahia. Cerca de dois anos vivendo em terras soteropolitanas, ele mantém a forte ligação com o Cariri e analisa o cenário LGBT da região. “Em contexto contemporâneo temos coletivos independentes que discutem a questão da mulher. Instigados por algumas pesquisadoras que há mais de uma década estudam isso, como a Salete Maria que foi professora da URCA.”. O pesquisador ressalta que Salete Maria, junto de outras mulheres, promoveu os primeiros debates feministas. “Isso há vinte anos!”, completa.
Em tom crítico, o pesquisador relaciona o material televisivo com as pautas dos movimentos sociais e LGBT. Ele assume que há um tempo não acompanha a mídia local, no entanto, em âmbito geral, pondera uma mídia que não se preocupa em aprofundar o debate da violência de gênero ou dos grupos subalternos. Na contramão dessa pedante mídia, o cinema contemporâneo local e independente traz propositalmente conteúdos sobre a travestilidade, o feminino e a marginalização sejam em produções ou exibições.
Essa galera nova que fabrica audiovisual no Cariri aproveita a própria terra e a cotidianidade. Consumidor desses produtos, Samuel é pontual quanto ao que espera. Ele quer mais gente contando histórias através dos takes e mais incentivo financeiro também. “Precisa de um duplo movimento: formação das pessoas que queiram fazer cinema através de cursos ou faculdade de cinema, aliada ao incentivo público.” finaliza.