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Mãe, afasta de mim esse sutiã!

Dia desses perdi o Kariri Tur - ônibus de contrato que leva estudantes do Crato para as universidades juazeirenses. A forma alternativa de chegar até o meu destino, a UFCA, seria pegar uma condução intermunicipal, e assim fiz. Estava distraída no Via Metro, atenta a musica advinda dos meus fones de ouvido e a borrada paisagem externa nos vidros, até desviar o olhar. O intrigante estava lá, no corredor do ônibus.

Mulher e menina se dirigiam para a porta de saída. Cena perfeitamente normal, se aquela criança, que suponho ter 8 anos no máximo, não estivesse usando sutiã. Um sutiã de renda e bojo, branco, estilo nadador. Aquela situação me deixou perplexa e nostálgica.

Lembro do meu primeiro sutiã. Minha mãe ganhou de presente, porém era pequeno demais pros seus seios. Motivo suficiente para eu insistir até que ela me desse. Era verde, também de renda, e passei a usá-lo sempre. Na escola, a maioria das minhas colegas já usavam, e com suas linguas afiadas, criticavam as outras colegas que não o faziam. Quase um "clube do sutiã" com integrantes de idade não superior a 10. Nós não tinhamos seios. Porém o glamour e o tabu oriundo daquela peça íntima já era perceptível aos nossos pares de olhos pueris.

O fato é que, mesmo antes do sutiã, as meninas são advertidas a vestirem-se. Lembro da minha avó dizendo que eu já estava mocinha pra andar por aí só de calcinha, aos sete. Enquanto o meu irmão, em plena puberdade, ainda anda de cueca dentro de casa sem problema algum. Minha avó estava tentando me proteger. Subliminarmente, estava preocupada, porque o título de "mocinha" me fazia oficialmente objetificada e sexualizada.

Percebemos, da pior forma, que a roupa não importa. Que vestida ou não, mulheres são alvos e vítimas, todos os dias. Não importa a faixa etária.

Os sutiãs de hoje são os espartilhos de antigamente. Desconfortáveis, desnecessários. Alguns prometem levantar os seios e deixá-los mais bonitos (segundo um padrão de beleza, diga-se de passagem) mas são feitos com aros de ferro, que machucam e ferem a pele, com o tempo. Os seios compõe uma esfera de opressão maior do que se imagina, diante do corpo feminino e a desigualdade de gênero.

Então, mulher, liberte-se! Liberte seus mamilos. Atente-se a esse item de vestuário que pode ser um amigo enrustido velado de prisão. Se for como eu, que ainda não consegue largar completamente esse bendito, pelo menos reflita sobre o porquê de se submeter a ele, todos os dias. E lembre-se: feminismo é liberdade, inclusive de escolha.

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