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O Horizonte do Salto 15

O que antes era hobby, hoje é estilo de vida. Nicolas Bergson conta que atravessou a ponte da descoberta de si com o salto alto

Nicolas está sempre maquiado. Com o esmalte cor urbana, olhos pintados e tranças de kanecalon — visual muito usados em cabelo afro — vermelhas, ele conta que não lembra quando começou a dançar, mas relembra que desde pequeno sobe nos saltos da mãe e desfila no corredor de sua casa. "É o que fez toda criança viada", brinca ele. Aos 22 anos, Nicolas Bergson é estudante de artes visuais da Universidade Regional do Cariri (URCA), dançarino e professor de Stilleto Dance da Academia Ballet Rocha em Juazeiro do Norte e também Nicole Rasta.

O dançarino que começou a dançar no colégio, passou para o hip-hop e acabou ministrando aulas, oficinas e workshops de dança em salto alto, hoje considera o dançar um estilo de vida. A sua história com a sandália começou em 2014, quando ele foi conseguindo se destacar nas aulas e ganhando confiança da professora para deixar de ser aluno e se tornar um professor. Aos poucos ela foi o capacitando para não só reproduzir o que fazia, mas guiar sua própria aula e traçar seus próprios métodos didáticos. Para isso, ele confessa que teve de deixar um pouco o balé de lado, mas que consegue lidar com a sapatilha e salto ao mesmo tempo.

"Foi uma ponte que me levou às coisas que eu descobri", explica ele sobre o processo de transição de aluno para professor e do que ele era para o que ele é hoje, ambos caminharam dia, a dia, lado a lado. "Como isso fica bonito em mim, preciso usar isso até morrer!", exclama de quando passou batom a primeira vez. Nicolas também é Drag Queen. Sua versão artística performática se chama Nicole Rasta. Sobre ser dragqueen eu posso dizer pouca coisa, Nicole é algo muito recente, estou me descobrindo, me construindo", diz ele. O Rasta ele não escolheu, foi sugestão de um amigo depois de fazer suas primeiras tranças.

No Cariri algumas academias já vinha elaborando propostas de Stilleto Dance, mas foi com a Ballet Rocha que prática se consolidou. A proposta dos seus exercícios fogem da rotina, não parecendo com a musculação, por exemplo. O encontro ocorre em todas segundas e quartas-feiras com às 18:30h. Na academia, atualmente, ele só tem alunas, mas alguns homens já se interessaram através da curiosidade, mas não continuaram indo nos encontros.

Os sapatos tidos como masculinos sempre tiveram saltos principalmente mais baixos. Historicamente, muitos guerreiros do Oriente Médio usavam os saltos para funcionalidade. As famosas Beatle boots, duas polegadas do calcanhar cubano, reintroduziram e inicializaram os homens no calçado. O uso do salto tem conquistado debates diante das políticas sexuais e de gênero. Desde o movimento de libertação das mulheres intensificado em 1970, foram se reinventando a estética da sandália, ora rejeitada pelas mulheres, por remeter a uma condição de padrão de beleza feminino, e ora desconstruindo a heteronormatividade social entre gays, travestis, drag queens e transexuais. "Sobre ser gay ou ser viado não tenho isso como xingamento", completa Nicolas.

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